terça-feira, dezembro 09, 2025

O Flerte: da troca de sinais ao compromisso

 

Da troca de sinais ao compromisso

O flerte não é só um jogo de olhares ou de frases espirituosas. Ele é, muitas vezes, a porta de entrada para uma sequência de decisões silenciosas que podem, pouco a pouco, levar a um compromisso amoroso. Visto de perto, o caminho costuma ter alguns degraus bem claros.

O primeiro passo é aceitar o contato.
Antes de qualquer coisa, alguém sinaliza: olha de volta, sorri, se aproxima, puxa assunto. O outro responde, devolve o olhar, não desvia, permite a aproximação, aceita que a pessoa se sente ao lado. Isso parece pouco, mas não é neutro: é o primeiro “sim”. É como se dissesse, sem palavras: “Você pode existir um pouco mais perto de mim.”

Em seguida vem aceitar a conversa.
Não é só responder por educação, mas sustentar minimamente a interação: olhar nos olhos, prestar atenção, comentar, perguntar, deixar a conversa correr um pouco. Aqui o flerte e a conversa começam a se misturar. Se a pessoa só responde monossilabicamente, o sinal é de bloqueio; se se abre, ri, pergunta de volta, o sinal é de aceitação.

Um terceiro degrau possível, às vezes já no primeiro encontro, é aceitar intimidade física: beijos, carícias, um contato corporal mais próximo. Esse passo já indica um grau mais elevado de abertura afetivo-erótica. Não é ainda compromisso, mas mostra que o outro foi lido como alguém com quem faz sentido viver uma experiência amorosa, não apenas uma boa conversa.

Outro passo importante é aceitar um novo encontro.
Dizer “vamos nos ver de novo?”, “me manda mensagem”, “vamos combinar algo no fim de semana” e ouvir um “sim” verdadeiro, não protocolar, é sinal de que houve aprovação. O encontro deixou alguma vontade de continuidade. Cada novo encontro aceito é um tijolo a mais na construção do vínculo.

Mais adiante, se a coisa evoluir, chega-se ao ponto de um pedido de namoro (ou algum equivalente contemporâneo: “estamos juntos?”, “é exclusivo?”). Aqui já entramos em outro regime: começam a valer regras, mesmo que implícitas – expectativas de prioridade, frequência de contato, certo grau de exclusividade, consideração mútua na organização da vida.

Esses degraus não são aleatórios. Eles dependem, ao mesmo tempo, de:

  • Capital inicial: aquilo que a pessoa já parecia ser, antes mesmo do convívio – aparência, jeito, mundo em que vive, sinais vistos no flerte, primeiras conversas.
  • O que aconteceu durante os encontros: como a conversa fluiu, se houve respeito, se houve sintonia, se a pessoa foi confiável, se inspirou segurança ou desconfiança, se provocou desejo.

Em alguns casos, o capital inicial é tão forte que o encontro funciona mais como um teste de veto do que como um lugar de construção do interesse. A pessoa já chega ao primeiro encontro quase com um “pré-namoro” na cabeça: está tão fascinada pelo que viu, imaginou e sentiu no flerte que o que vem a seguir precisa apenas não trazer nada muito negativo. Se não aparecer nenhum fato grave – falta de respeito, mentira gritante, sinais de risco – o entusiasmo inicial pode ser suficiente para a pessoa já se sentir, por dentro, “quase namorando”. Os encontros seguintes servem mais para confirmar impressões e checar confiabilidade do que para criar algo do zero.

Em outras situações, acontece justamente o contrário: o entusiasmo nasce durante os encontros. O capital inicial era apenas suficiente para justificar um café, uma caminhada, uma saída – nada mais do que isso. A química, a sensação de “quero ver de novo”, surge aos poucos: no jeito de falar, de ouvir, de brincar, nas histórias de vida, no modo de tratar o garçom, na maneira de lidar com um imprevisto. Aqui, o encontro não é só precaução, é fábrica de desejo e de admiração.

Em ambos os casos, o que importa é perceber que o flerte não é um capítulo isolado, que termina assim que “marcou o encontro”. O flerte é a língua em que esses convites e aceitações vão sendo feitos: do olhar que autoriza a aproximação, ao sorriso que incentiva a conversa; da mão que aceita ser tocada, ao “sim” para o próximo encontro; do corpo que se deixa beijar, à decisão de assumir um namoro.

Cada um desses pequenos passos é, ao mesmo tempo:

  • um sinal (mostra que a pessoa foi aprovada até ali),
  • um teste (permite ver como o outro reage à maior proximidade)
  • e um motor (se dá certo, alimenta o desejo de ir adiante).

Entender essa escadinha ajuda a tirar o mistério de muitos “sumiços” e de muitos namoros que parecem “nascer prontos”. Em geral, não é mágica: é a combinação de um certo capital inicial com o que acontece – ou deixa de acontecer – em cada degrau dessa sequência de aceitação. E o flerte está presente em todos eles, como o modo sutil de dizer “sim, pode chegar mais perto” ou “não, melhor parar por aqui”.

(Texto editado com a ajuda do ChatGPT)