Da troca de sinais ao compromisso
O flerte não é só um jogo de
olhares ou de frases espirituosas. Ele é, muitas vezes, a porta de entrada para
uma sequência de decisões silenciosas que podem, pouco a pouco, levar a um
compromisso amoroso. Visto de perto, o caminho costuma ter alguns degraus bem
claros.
O primeiro passo é aceitar o
contato.
Antes de qualquer coisa, alguém sinaliza: olha de volta, sorri, se aproxima,
puxa assunto. O outro responde, devolve o olhar, não desvia, permite a
aproximação, aceita que a pessoa se sente ao lado. Isso parece pouco, mas não é
neutro: é o primeiro “sim”. É como se dissesse, sem palavras: “Você pode
existir um pouco mais perto de mim.”
Em seguida vem aceitar a
conversa.
Não é só responder por educação, mas sustentar minimamente a interação: olhar
nos olhos, prestar atenção, comentar, perguntar, deixar a conversa correr um
pouco. Aqui o flerte e a conversa começam a se misturar. Se a pessoa só
responde monossilabicamente, o sinal é de bloqueio; se se abre, ri, pergunta de
volta, o sinal é de aceitação.
Um terceiro degrau possível, às
vezes já no primeiro encontro, é aceitar intimidade física: beijos,
carícias, um contato corporal mais próximo. Esse passo já indica um grau mais
elevado de abertura afetivo-erótica. Não é ainda compromisso, mas mostra que o
outro foi lido como alguém com quem faz sentido viver uma experiência
amorosa, não apenas uma boa conversa.
Outro passo importante é aceitar
um novo encontro.
Dizer “vamos nos ver de novo?”, “me manda mensagem”, “vamos combinar algo no
fim de semana” e ouvir um “sim” verdadeiro, não protocolar, é sinal de que
houve aprovação. O encontro deixou alguma vontade de continuidade. Cada novo
encontro aceito é um tijolo a mais na construção do vínculo.
Mais adiante, se a coisa evoluir,
chega-se ao ponto de um pedido de namoro (ou algum equivalente
contemporâneo: “estamos juntos?”, “é exclusivo?”). Aqui já entramos em outro
regime: começam a valer regras, mesmo que implícitas – expectativas de
prioridade, frequência de contato, certo grau de exclusividade, consideração
mútua na organização da vida.
Esses degraus não são aleatórios.
Eles dependem, ao mesmo tempo, de:
- Capital inicial: aquilo que a pessoa já parecia ser, antes
mesmo do convívio – aparência, jeito, mundo em que vive, sinais vistos no
flerte, primeiras conversas.
- O que aconteceu durante os encontros: como a conversa fluiu, se houve respeito, se
houve sintonia, se a pessoa foi confiável, se inspirou segurança ou
desconfiança, se provocou desejo.
Em alguns casos, o capital
inicial é tão forte que o encontro funciona mais como um teste de veto do
que como um lugar de construção do interesse. A pessoa já chega ao primeiro
encontro quase com um “pré-namoro” na cabeça: está tão fascinada pelo que viu,
imaginou e sentiu no flerte que o que vem a seguir precisa apenas não trazer
nada muito negativo. Se não aparecer nenhum fato grave – falta de respeito,
mentira gritante, sinais de risco – o entusiasmo inicial pode ser suficiente
para a pessoa já se sentir, por dentro, “quase namorando”. Os encontros
seguintes servem mais para confirmar impressões e checar confiabilidade
do que para criar algo do zero.
Em outras situações, acontece
justamente o contrário: o entusiasmo nasce durante os encontros. O
capital inicial era apenas suficiente para justificar um café, uma caminhada,
uma saída – nada mais do que isso. A química, a sensação de “quero ver de
novo”, surge aos poucos: no jeito de falar, de ouvir, de brincar, nas histórias
de vida, no modo de tratar o garçom, na maneira de lidar com um imprevisto.
Aqui, o encontro não é só precaução, é fábrica de desejo e de admiração.
Em ambos os casos, o que importa é
perceber que o flerte não é um capítulo isolado, que termina assim que “marcou
o encontro”. O flerte é a língua em que esses convites e aceitações vão
sendo feitos: do olhar que autoriza a aproximação, ao sorriso que incentiva a
conversa; da mão que aceita ser tocada, ao “sim” para o próximo encontro; do
corpo que se deixa beijar, à decisão de assumir um namoro.
Cada um desses pequenos passos é,
ao mesmo tempo:
- um sinal (mostra que a pessoa foi
aprovada até ali),
- um teste (permite ver como o outro
reage à maior proximidade)
- e um motor (se dá certo, alimenta o
desejo de ir adiante).
Entender essa escadinha ajuda a
tirar o mistério de muitos “sumiços” e de muitos namoros que parecem “nascer
prontos”. Em geral, não é mágica: é a combinação de um certo capital inicial
com o que acontece – ou deixa de acontecer – em cada degrau dessa sequência de
aceitação. E o flerte está presente em todos eles, como o modo sutil de dizer
“sim, pode chegar mais perto” ou “não, melhor parar por aqui”.
(Texto editado com a ajuda do ChatGPT)
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