segunda-feira, dezembro 08, 2025

Quando o valor da pessoa é determinado pelo seu modo de se comportar

 

O valor de uma pessoa pelo modo de ser e se comportar

Quando falamos em “valor” de uma pessoa como parceira amorosa, é fácil pensar logo em dinheiro, aparência, nível cultural, currículo. Esses fatores existem, claro, e fazem parte do capital inicial: ajudam a definir com que grupos eu tenho chance real de me conectar (homogamia) e se eu passo ou não pelos filtros de veto (não ter características muito desmerecedoras ou intoleráveis).

Mas, dentro do campo dos elegíveis – isto é, entre as pessoas com quem há razoável semelhança em nível de vida, sem vetos graves – o que decide o jogo deixa de ser dinheiro, beleza ou títulos.

Passa a ser, sobretudo, o modo como a pessoa é e se comporta, momento a momento, e o efeito contínuo disso sobre quem convive com ela.

Podemos organizar essas fontes de valor em três grandes blocos:

  1. Como a pessoa é – o seu modo de ser, sua energia, sua presença.
  2. O que ela faz na relação – como trata, escuta, apoia e lida com o outro.
  3. O prestígio que ela carrega – o valor simbólico de ser visto ao lado dela.

1. Capital de personalidade: valor pelo modo de ser

Aqui entram as qualidades que fazem alguém ser valioso pelo jeito de existir no mundo:

  • como lida com problemas e frustrações;
  • como aproveita a vida;
  • quanta energia coloca nas coisas;
  • sua capacidade de estar presente;
  • seu grau de responsabilidade;
  • sua independência e assertividade (sem agressividade);
  • sua abertura para ver coisas boas na vida, sonhar e agir;
  • ser batalhadora: querer algo e construir isso com esforço;
  • seu lócus de controle interno: sentir-se agente da própria vida;
  • sua disposição para expandir os limites do eu (aprender, evoluir, se transformar).

Esse conjunto produz algo que, em linguagem comum, chamamos de:

Não estamos falando de perfeição, nem de alguém que vive num estado de euforia permanente.

Pontos importantes aqui:

  • Pessoas mais tranquilas, introvertidas ou contemplativas também podem ter alto valor de personalidade:
    • pela calma que transmitem,
    • pela profundidade com que pensam,
    • pela estabilidade e coerência,
    • pela delicadeza com que se relacionam.
  • O que conta não é ser “performático”, mas ser uma pessoa viva por dentro, com algum tipo de energia própria:
    • pode ser energia expansiva (quem agita, cria, puxa);
    • ou energia serena (quem organiza, acalma, oferece porto seguro).

Quando há homogamia básica (nível de vida, valores, estilo de mundo) e ausência de defeitos excludentes, esse capital de personalidade passa a ser decisivo.

É ele que faz alguém se destacar, dentro do universo em que ambos sabem que têm chance real de se escolher e ser escolhido.


2. Capital relacional: valor pelo que faço com e para o outro

É o aspecto mais falado nas redes sociais quando se discute “como melhorar relacionamentos”:

  • saber ouvir,
  • apoiar,
  • validar,
  • dar importância,
  • conversar com atenção,
  • querer o bem do outro,
  • ajudar materialmente quando possível,
  • ser confiável,
  • ser comprometido.

Isso tudo é, de fato, muito importante. É o que faz a pessoa ser boa companhia, boa amiga, boa parceira: alguém com quem posso contar e diante de quem posso me mostrar.

Mas há uma nuance crucial:

As mesmas ações têm pesos muito diferentes dependendo de quem as realiza.

Ouvir, validar e apoiar são ótimos.
Mas:

  • quando isso vem de alguém que considero admirável, íntegro, carismático, que leva a vida com coragem e responsabilidade,
  • o impacto é bem diferente de quando vem de alguém em quem não confio, não admiro ou vejo como pouco consistente.

A mesma frase de apoio:

  • pode ser profundamente curadora se vem de alguém que eu respeito e cuja opinião valorizo;
  • ou pode quase não mexer comigo se vem de alguém que eu não levo muito a sério.

Por isso, capital relacional (o que faço pelo outro) e capital de personalidade (quem eu sou) não podem ser separados.

Na relação saudável:

  • eu não anulo o interlocutor;
  • reconheço seus méritos;
  • tento entender o que se passa com ele;
  • ajudo, dentro do possível, a se realizar.

Mas também:

  • não viro apenas um “prestador de serviço emocional”, que só valida, apoia, incentiva e se apaga.
  • o cuidar precisa ter limites para não virar servidão:
    • eu cuido do outro sem abandonar a minha própria vida e dignidade.

3. Capital simbólico: valor pelo prestígio que irradia

Uma terceira fonte de valor é o prestígio social que a pessoa carrega:

  • o respeito que ela tem no seu meio;
  • a admiração que desperta nos outros;
  • o reconhecimento de sua competência, ética, trajetória.

Estar com alguém assim costuma ser:

  • lisonjeiro (“alguém assim me escolheu”),
  • validante (“se essa pessoa me quer por perto, devo ter valor”),
  • um selo indireto de qualidade para quem está ao seu lado.

É natural que isso pese:

  • sentir que a pessoa é admirada, respeitada, bem-vista socialmente,
  • perceber que, de algum modo, estar com ela também comunica algo sobre mim.

Esse capital simbólico é real e conta. Mas tem dois lados:

  1. Lado luminoso
    • Inspira crescimento (“quero ser alguém à altura desse vínculo”);
    • Dá orgulho de apresentar o outro;
    • Reforça a autoestima de forma saudável quando combinado com respeito mútuo.
  2. Lado sombrio
    • Pode gerar relações assimétricas, em que um se sente “lá em cima” e o outro “sempre abaixo”;
    • Pode levar a idealização: “qualquer migalha dessa pessoa já está bom, porque o valor dela é enorme”;
    • Pode ser usado (consciente ou não) como instrumento de poder e manipulação:
      • “Você tem sorte de estar comigo”;
      • “Veja bem se quer perder alguém como eu”.

Por isso, é importante lembrar:

O prestígio aumenta o impacto das ações da pessoa – para o bem e para o mal.

Um elogio vindo de alguém muito admirado pode levantar o dia.
Uma crítica ou rejeição, vinda da mesma pessoa, pode doer dez vezes mais.

Relações mais saudáveis tendem a caminhar na direção de:

  • admiração recíproca,
  • reconhecimento dos pontos fortes de ambos,
  • lugar para vulnerabilidades dos dois, sem um viver eternamente como “o inferior”.

4. Quando a homogamia está dada, quem decide o jogo?

Se coloco tudo isso junto, o quadro fica mais ou menos assim:

  1. Primeiro, preciso passar pelos filtros básicos:
    • homogamia razoável (não estar muito acima ou muito abaixo do mundo do outro);
    • ausência de vetos fortes (características realmente desmerecedoras ou intoleráveis).
  2. Dentro desse campo de elegíveis, o que começa a decidir o jogo é:
    • o meu modo de ser (capital de personalidade),
    • o meu modo de me relacionar (capital relacional),
    • o prestígio simbólico que carrego e a forma como lido com ele.

E, nesse ponto, é fundamental notar:

  • dinheiro, beleza, grau de escolaridade continuam importantes,
  • mas não são eles que atuam momento a momento na interação.

O que vai realmente:

  • prender a atenção,
  • me modificar,
  • me dar vida,
  • me fazer reagir e ser reagido,

é o jogo fino do dia a dia:

  • a vibração da pessoa;
  • a forma como ela olha para mim;
  • o tipo de atenção que concentra em mim;
  • o prazer (ou o desgaste) de estar na sua companhia;
  • a confiabilidade;
  • a construtividade;
  • a positividade sem negação da realidade;
  • a transparência;
  • a coragem de falar e ouvir coisas difíceis;
  • a maneira como tudo isso acontece sem me desmerecer, sem me pôr para baixo.

Quando encontro alguém assim – com base homogâmica adequada, sem vetos fortes e com esse tipo de presença e relação – é isso que, na prática, decide o jogo.

É com isso que eu convivo.
É isso que está ativo momento a momento, continuamente, muito mais que a conta bancária ou o diploma pendurado na parede.


5. A combinação que torna o vínculo especial

Podemos resumir assim:

Um relacionamento se torna especialmente valioso quando, na experiência do cotidiano, se combinam pelo menos dois grandes movimentos:

  1. “Estou com alguém que admiro”
    • pessoa com valor de personalidade e simbólico: íntegra, viva, responsável, interessante, com qualidades que respeito.
  2. “Esse alguém que admiro realmente me considera”
    • me ouve,
    • me dá atenção,
    • leva minhas questões a sério,
    • quer o meu bem,
    • contribui para eu me realizar.

Quando essas duas coisas acontecem juntas:

  • não é só “alguém legal que cuida de mim”,
  • nem só “alguém admirável que mal olha na minha cara”.

É alguém de alto valor, aos meus olhos, que me escolhe e me trata como alguém valioso também.

Essa combinação é uma das grandes forças que explicam:

  • porque certos vínculos nos transformam;
  • porque certas relações, quando acabam, doem tanto;
  • porque às vezes aceitamos menos do que deveríamos, só para não perder a validação de alguém que consideramos muito.

O desafio, para quem pensa o amor de forma adulta, é construir relações em que:

  • ambos tenham valor e se vejam com respeito,
  • ambos recebam e ofereçam cuidado,
  • o prestígio de um não esmague o outro,
  • o cuidar não vire servidão,
  • e em que o “jogo sendo jogado momento a momento” seja, na média, algo que nos põe mais de pé do que de joelhos.

 

 

 Devemos considerar ainda que, quando há o ponto de fusão, a pessoa perde a objetividade: o outro se torna valioso, insubstituível.

Aí, todas as coisas que ela faz ou deixa de fazer são reavaliadas; a gente perde a objetividade.

Quando a gente admira, quando a gente considera alguém um líder, um mito – isso também acontece no relacionamento amoroso e com filhos – o outro fica acima da crítica em grande parte.

Ele tem um valor tão grande que as coisas que vêm dele nós temos tendência a:
– aceitar;
– distorcer favoravelmente;
– e, no caso das coisas ruins, diminuir, subestimar.

Nesse ponto, outros comportamentos são reavaliados favoravelmente ao parceiro.


Observações breves

Você introduz aqui um componente crucial: a distorção da percepção quando há fusão/apaixonamento intenso ou idealização.

  • O “ponto de fusão” (apaixonamento, amor parental, idolatria de líder/mito) faz o outro se tornar:
    • insubstituível,
    • acima da crítica,
    • um referencial absoluto.
  • Isso mexe diretamente com a análise anterior sobre valor:
    • antes, falávamos de atributos reais (modo de ser, modo de se relacionar, prestígio) e seus efeitos;
    • a partir de certo nível de apego e admiração, a mente passa a recalcular tudo a favor do outro:
      • ações neutras viram provas de valor;
      • ações ruins são minimizadas, racionalizadas, até invertidas.

Isso é praticamente a cristalização stendhaliana aplicada esse modelo:

o valor objetivo da pessoa importa, mas, depois do ponto de fusão, o valor subjetivo explode e distorce a leitura do comportamento real.

 “Quando o valor explode: fusão, idealização e perda de objetividade”, mostrando como o mesmo mecanismo que dá força ao vínculo também aumenta o risco de cegueira, tolerância a maus-tratos e autoengano.

(Texto editado com a ajuda do ChatGPT)