“Não adianta chorar o leite derramado!'' (Ditado popular)
Um risco que corremos frequentemente é a paralisia ou a prática de ações inadequadas provocadas por sentimentos muito intensos e negativos.
Nestes casos, os sentimentos, que deveriam servir como alertas contra danos e servir como motivadores para ações eficientes para lidar com as situações, tomam toda a atenção e desmobilizam ações efetivas.
Por exemplo, o medo intenso pode nos congelar e impedir que reajamos a uma agressão ou a um carro desgovernado que vem na nossa direção.
Outro exemplo: quem está deprimido fica tão impregnado pela desesperança que não consegue fazer mais nada.
Alguns sentimentos intensos fazem que a pessoa que está tomada por eles só pense naquilo que sente e não nas medidas que poderia tomar para resolver a situação. Por exemplo, quem foi abandonado pela amada, muitas vezes, perde a vontade e as forças para fazer qualquer coisa que ajudaria a parar de pensar nela e a se ligar em outras pessoas.
A saída de muitas situações doloridas, amedrontadoras ou enfurecedoras exige que não nos deixemos guiar pelos sentimentos, mas sim que vejamos as formas de lidar com elas e, apesar dos sentimentos, aplicar as medidas para sair delas.
Deixar-se controlar por sentimentos que são maus conselheiros
Os sentimentos geralmente são úteis e adaptativos: eles existem porque melhoraram as chances de sobrevivência individual e da nossa espécie. Eles, no entanto, podem se voltar contra o próprio organismo, tal como acontece com o sistema imunológico: geralmente este sistema protege o organismo, mas pode se tornar disfuncional e passar a atacá-lo ou atacar alguns dos seus órgãos (doenças “autoimunes”). Da mesma forma, as emoções podem se tornarem disfuncionais, tal como acontece nos casos de fobias e de timidez. Nestes casos, o medo se torna desproporcional ao risco e a pessoa pode ser altamente prejudicada porque deixa de fazer coisas que lhes seriam benéficas nessas situações.
As disfunções emocionais e perceptuais são muito mais frequentes do que imaginamos. A todo o momento, deixamos de fazer muitas coisas úteis e fazemos muitas coisas inúteis porque estamos sendo guiados por sentimentos, percepções e expectativas distorcidas ou totalmente erradas.
Muitas vezes, estamos vendo tudo negro, ficamos pessimistas. Pode ser que até tenhamos algumas boas razoes para isso, para estarmos desanimados ou tristes, mas não para desistirmos. Quando há boas razões para os sentimentos ruins, temos que admiti-los. Eles são legítimos. Mas quando a nossa parte racional indica claramente que existe uma boa chance que as coisas deem certo, apesar de tudo que estamos sentindo de mau, temos que colocar a faca nos dentes e seguir em frente.
Com a faca nos dentes
Recentemente assisti a um filme na TV a cabo sobre a história de sobreviventes de um acidente de avião no Alaska (“A Perseguição”. Um filme de Joe Carnahan com Liam Neeson, Dallas Roberts). Mais no final desse filme, três deles saem à procura de ajuda. O que interessa aqui é a persistência deles para lutar contra aquela situação bastante desesperadora: continuam a caminhar embora sintam fome, dor, cansaço, sono e medo. Todos esses sentimentos e sensações pressionam para que desistam da caminhada. A área racional de seus cérebros, no entanto, concluiu clara e acertadamente, que se fizessem isso morreriam em pouco tempo porque, como já se afastaram do local da queda do avião, provavelmente não serão localizados com vida: sobreviveriam por pouco tempo naquelas condições hostis.
Esta maneira agir em face de sentimentos e sensações negativas não ocorre apenas em situações dramáticas como esta dramatizada no filme. Ela também está presente no nosso dia a dia: levantamos da cama quando o sono ainda nos diz para ficar; enfrentamos o trânsito para encarar um trabalho pouco atraente, mesmo quando gostaríamos de ficar em casa ou de passear; comemos aquela saladinha meio sem sabor quando o nosso apetite nos faz sonhar com aquela comida gordurosa e altamente calórica; corremos em uma esteira para ficar no mesmo lugar para fazer ginástica, etc.
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