segunda-feira, novembro 10, 2025

Não existem atrativos fortes para a amizade imediata comparáveis aos do amor

 


Talvez as pessoas não queiram, ou não sintam atração, por fazer amizades com a mesma intensidade com que se sentem atraídas por relacionamentos amorosos. No amor, há atrativos voltados para uma pessoa determinada, assim como acontece no desejo sexual por pessoas específicas. Muitas pessoas gostam da ideia de ter amigos, mas, em geral, não percebemos, em alguém concreto, estímulos visuais tão claros que nos atraiam imediatamente especificamente para a finalidade de amizade, como acontece na atração amorosa ou sexual.

O que pode existir, isso sim, é um alto grau de sociabilidade: pessoas que gostam de conversar, circular, estar em grupo. Mas essa sociabilidade ampla não é a mesma coisa que sentir um “puxão” forte e direcionado para transformar alguém em amigo íntimo.

No começo de qualquer relacionamento importante — seja ele amistoso ou amoroso — a situação tende a ser um pouco desagradável ou tensa. As pessoas não sabem bem “onde estão pisando”, têm medo de não agradar e medo de desagradar. Essa insegurança inicial é quase regra. Talvez por isso um aplicativo exclusivamente para fazer amizade não pareça, à primeira vista, tão atraente. Quem entra nesse tipo de app tende a fazê-lo movido por uma decisão mais racional (“preciso ampliar meu círculo social”, “quero conhecer gente nova”) do que por uma motivação intrínseca intensa, como acontece no amor romântico dos estilos Eros, Mania e Ludos, em que a própria pessoa desejada é um forte ímã.

Aqui vale distinguir:

  • há motivação intrínseca pela pessoa, típica do amor romântico, quando alguém em particular fascina, atrai, ocupa a mente;
  • há motivação intrínseca pela atividade, quando a pessoa vai a um grupo porque gosta de jogar futebol, estudar línguas, tocar música;
  • e há a motivação mais racional ou planejada, quando alguém decide “preciso fazer amigos”, mas esse impulso, sozinho, costuma ser mais fraco e menos urgente do que o desejo amoroso.

Por outro lado, pode haver algo como uma “simpatia à primeira vista”, tal como existe o amor à primeira vista — mas, em geral, menos poderosa. O amor à primeira vista pode ser avassalador e hipnotizante; já na simpatia à primeira vista, muitas vezes aparece a inibição: a pessoa sente afinidade, mas não sabe como será recebida, e recua.

Existem, sim, pessoas carismáticas que atraem rapidamente a atenção. Frequentemente, elas despertam admiração ou vontade de segui-las, mais do que o impulso direto de virar amigo íntimo. No entanto, quando esse carisma vem acompanhado de acessibilidade e abertura, ele pode, sim, servir como porta de entrada para futuras amizades — embora, ainda assim, raramente com a intensidade típica da paixão amorosa.

O começo da amizade se assemelha ao começo do amor do tipo Estorge — o amor que nasce da convivência e da familiaridade. A ligação inicial costuma não ser muito forte. Quando a ligação é forte logo no início, isso geralmente se deve ao Capital Inicial (o conjunto de características avaliáveis antes da convivência: aparência, estilo, status, jeito global) ou à força do interesse de fazer amizade com aquela pessoa em particular. Mesmo assim, essa força, em boa parte dos casos, não é tão intensa nem tão urgente quanto as forças envolvidas no amor romântico. Isso ajuda a entender por que um aplicativo voltado apenas à amizade tende a gerar menos motivação espontânea do que um aplicativo de relacionamento amoroso.

Além disso, as pessoas frequentemente sentem falta de um relacionamento amoroso: existe uma motivação amorosa específica e dirigida (“quero um par amoroso”). No caso da amizade, o que muitas vezes aparece é uma sensação mais difusa: um sentimento de solidão, de vazio, de falta de convivência. Não é automaticamente um impulso claro de sair para “fazer amigos” — é mais um desconforto que a pessoa tenta aliviar de modos variados.

Na amizade, o início costuma ser mediado por um fato ou contexto que coloca os dois futuros amigos juntos. A motivação para permanecerem em contato nasce desse fato: ambos estão empenhados em fazer um trabalho escolar, participam do mesmo time, estão na mesma excursão, dividem a mesma sala de aula, frequentam o mesmo curso, aparecem nas mesmas festas. A atividade em comum mantém o contato, cria oportunidades de conversa e, a partir daí, a ligação pode se desenvolver.

No amor, ao contrário, as pessoas podem se encontrar com finalidades abertamente amorosas, sem precisar de um “fato externo” que as junte. No caso dos estilos de amor com forte atração inicial, as pessoas procuram locais para paquerar, bares e festas com esse clima, além de aplicativos explicitamente voltados para namoros e encontros. Pouca gente, em comparação, procura locais ou aplicativos primariamente para fazer amizade; quando o fazem, muitas vezes colocam como justificativa a atividade em comum (grupo de estudos, grupo de corrida, curso, hobby), e a amizade vem como “efeito colateral”.

Portanto, no caso da amizade, parece ser quase sempre necessário algum tipo de fato externo ou uma decisão racional que gere motivação para persistir, mesmo quando a motivação intrínseca é fraca ou não está claramente focada em uma pessoa específica. Sozinha, essa motivação costuma não ser suficiente para fazer a maioria das pessoas insistir numa aproximação puramente amistosa.

Uma solução promissora, então, seria organizar encontros e aplicativos em torno de atividades e temas, e não apenas da ideia abstrata de “fazer amigos”: cursos, grupos de discussão, clubes de leitura, grupos de caminhada, eventos culturais, esportes, oficinas, encontros em parques como o Ibirapuera ou na Avenida Paulista. As pessoas vão a esses locais e atividades não “para fazer amizade”, mas porque gostam daquilo que está acontecendo ali. E é exatamente essa coincidência de interesse que cria um terreno fértil para a amizade.

Nesses ambientes, se houver um pretexto, a abordagem se torna muito mais fácil: um cachorro fofo, uma pergunta sobre a atividade, um comentário sobre o que está acontecendo, qualquer elemento que funcione como “autorização” para o outro se aproximar.

Tudo isso aponta para a mesma direção: um aplicativo para fazer amizade dificilmente funcionará de forma direta, baseado apenas na declaração “quero amigos”. Muito provavelmente ele precisaria ser um aplicativo para discutir algum tema, fazer algum curso, participar de jogos, projetos, grupos de interesse ou eventos — isto é, um ambiente centrado em atividades compartilhadas, dentro do qual as amizades possam, então, surgir e se fortalecer.

Limitações desse texto

Apesar de descrever tendências que parecem bastante comuns, este texto não pretende afirmar leis rígidas nem esgotar a complexidade das amizades humanas. Há pessoas e contextos em que a motivação para fazer amigos é forte, específica e até urgente — por exemplo, em mudanças de cidade, lutos, separações, aposentadoria ou em grupos culturalmente orientados à convivência. Também existem amizades de altíssima intensidade afetiva, que se aproximam, em profundidade, dos vínculos amorosos, bem como variações importantes ligadas à idade, gênero, classe social e cultura, que não foram exploradas aqui. Além disso, esta análise se apoia principalmente em observação clínica e em inferências teóricas, e não em dados empíricos sistemáticos sobre o uso de aplicativos de amizade ou sobre padrões de sociabilidade em diferentes populações. Portanto, o modelo proposto deve ser lido como uma hipótese útil para pensar o tema e orientar intervenções — especialmente no desenho de ambientes e aplicativos — e não como um retrato definitivo ou universal das motivações para a amizade.

(Texto editado pelo ChatGPT

Nenhum comentário:

Postar um comentário