sábado, dezembro 12, 2015

A polidez é um lubrificante social

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"A polidez é um lubrificante das relações sociais"

A palavra polidez geralmente é usada em dois sentidos: (1) etiqueta: modo “elegante” de se comportar em ocasiões sociais (por exemplo, exibir boas maneiras à mesa; enviar mensagens de cumprimentos). Muitas pessoas consideradas “polidas”, neste primeiro sentido, são extremamente grosseiras e sem tato nos seus relacionamentos sociais. (2) Tato: maneira delicada de lidar com outras pessoas.
A polidez, neste segundo sentido, tanto pode ser manifestada através de ações que não estão diretamente relacionadas com a conversa (segurar a porta do elevador para a outra pessoa entrar, levantar-se para cumprimentar, colocar uma tarefa de lado para dar atenção para uma visita) como através da forma de conversar. Vamos tratar aqui desse último caso.
A polidez na conversa é constituída por procedimentos que são adotados para torná-la mais agradável, para evitar que ela fique desagradável e para amenizar coisas desagradáveis que tenham de ser comunicadas.

A polidez é um “lubrificante social”
Já faz um bom tempo que os linguistas perceberam que as comunicações incluem mensagens que não estão muito relacionadas com as mensagens principais que as pessoas pretendem passar. Por exemplo, as comunicações geralmente incluem parênteses, anexos e inserções cujas funções não eram claras e, que, aparentemente, prejudicam a clareza das mensagens principais. Mais recentemente, eles descobriram que muitos desses anexos têm a importante função de “lubrificar” as comunicações sociais: são medidas de polidez.

As medidas de polidez não deve reduzir desnecessariamente a eficácia da mensagem. O emissor deve enviar, da forma mais nítida e clara possível, a mensagem principal e, ao mesmo tempo, mostrar consideração pelos seus interlocutores.
Os atos de polidez, ao invés de atrapalhar a comunicação, aumentam a eficácia das mensagens principais porque reduzem o atrito que essas mensagens poderiam produzir no interlocutor, caso fossem apresentadas sem os devidos cuidados com sua sensibilidade deste: a forma polida de comunicar evita desconfortos para o interlocutor, reduz ou desfoca os seus desconfortos e ressalta as boas características deste.

Respeitar a sensibilidade do interlocutor é uma medida de polidez
O ser humano é muito sensível ao tratamento que recebe dos seus interlocutores. Este tratamento pode ter efeitos que variam desde um extremo totalmente negativo até o outro, extremamente positivo. Esse tratamento pode, por um lado, provocar danos, angústia e inibições e, por outro lado, proporcionar benefícios e prazeres, confirmar a autoimagem, provocar bons sentimentos e motivar.
Uma das motivações mais poderosas das nossas ações são os efeitos que elas provocam em outras pessoas. Por exemplo, ficamos muito satisfeitos quando a nossa conversa envolve e provoca admiração em nossos interlocutores.
Os efeitos da polidez ou da impolidez apresentadas em uma conversa podem sobrepujar os efeitos do conteúdo daquilo que está sendo dito. Por exemplo, muitas brigas entre casais ocorrem porque eles usaram formas impolidas de tratamento e não porque apresentem discordâncias de opiniões ou discordâncias na maneira de conduzir suas vidas.

Ameaças à autoestima do interlocutor são inevitáveis e devem ser atenuadas
Toda comunicação, por definição, implica em algum grau de exercício de poder e, por isso, em algum grau de ameaça para si e para o interlocutor. Cada um dos interlocutores, em cada instante da conversa, corre riscos como desagradar, ser desautorizado e fazer uma intervenção que seja considerada depreciativa para o outro interlocutor. Para evitar ou diminuir estes tipos de ameaça, cada interlocutor pode tomar as seguintes medidas: abster-se de fazer tudo o que quer; policiar-se para não afetar, além da conta, seu interlocutor; acolher discordâncias; ouvir coisas que afetem razoavelmente a sua autoestima e corrigir a sua percepção sobre aquilo que afirmou e que não foi bem recebido pelo outro interlocutor.
O exercício do poder, as imposições, as invasões de intimidade, as exposições de fatos que o interlocutor estava tentando ocultar porque afetariam negativamente a sua autoimagem exigem o uso de amenizadores para que se tornem menos ofensivo.

Consequências da falta de polidez
O caso de Inês, relatado em seguida, ilustra as consequências da falta de polidez.
Inês: muitas qualidades e pouca polidez
Inês era linda, elegante e tinha uma boa condição financeira. Havia estudado nas melhores escolas e era muito viajada. Estava sempre em dia com as novidades. Aparentemente tinha tudo para fazer sucesso no campo amoroso. Logo na primeira sessão de terapia, ela revelou que realmente tinha muita facilidade para iniciar esse tipo de relacionamento, mas, acrescentou, tinha muita dificuldade para mantê-los. Os motivos desta dificuldade logo ficaram claros. Conversar com ela era frustrante e ofensivo. Ela dizia tudo que lhe passava pela cabeça, sem se preocupar com a escolha das palavras e com a forma de se expressar. Por exemplo, não poupava o interlocutor. Impacientava-se quando ele não era direto. Gabava-se de ser “transparente” – leia-se “não tinha papas na língua”. Em resumo, ela não era nada polida e tinha muitos problemas por isso.
Aquelas pessoas que rebaixam a autoestima dos seus interlocutores ou que não os respeitam estão cometendo um erro gravíssimo, uma vez que estas são duas necessidades básicas da nossa espécie. Quem age desta forma causa um grave desconforto em seus interlocutores, o que gera dificuldades para iniciar, desenvolver e manter relacionamentos com eles.
A autoestima é muito afetável tanto pelo conteúdo como pela forma da conversa, principalmente pela polidez ou falta de polidez por parte do interlocutor.

A forma de conduzir a conversa pode ser tão ou mais importante do que o seu conteúdo
A forma de conduzir a conversa pode ser tão importante do que aquilo que é dito durante o seu transcurso. A forma de conversar é um dos principais critérios utilizado para avaliar se ela é agradável ou desagradável e pode contribuir muito para que o seu sucesso ou fracasso.
Uma pesquisa mostrou que as habilidades para conversar eram as melhores preditoras do sucesso profissional posterior. Neste estudo, diversos tipos de características dos estudantes foram avaliados durante a época que estavam cursando a faculdade (desempenho escolar, QI, traços de personalidade, habilidades verbais, etc.). Os graus de sucesso profissional desses estudantes foram avaliados diversos anos após suas formaturas.
Os graus de sucesso foram comparados com as avaliações das diversas características obtidas na época da faculdade. A única característica pessoal que mostrou relação com o sucesso profissional posterior foi a capacidade verbal dos estudantes: aqueles que tinham mais habilidades verbais tinham mais chance de se saíram melhor na área profissional.

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