Muita gente não sabe como se portar diante de um desabafo. Certas pessoas procuram minimizar os significados dos fatos que causaram o desconforto em quem está desabafando. Outras pessoas contam histórias pessoais semelhantes àquelas relatadas por quem desabafa, porque acreditam que a desgraça compartilhada é menor. Outras, ainda, partem para os conselhos e para as indicações de soluções para diminuir o mal que está sendo relatado.
É possível que todos estes procedimentos tenham os seus efeitos positivos. No entanto, um procedimento que, creio, é dos mais proveitosos, tem os seguintes passos:
- Fase de entendimento do que está se passando com o outro
- Ouvir atentamente o que está sendo relatado
- Não apresentar opiniões
- Empatizar com os seus sentimentos que estão sendo apresentados. Por exemplo:
Mostrar expressões faciais das emoções correspondentes ao que quem está desabafando estaria sentindo
Emitir vocalizações emocionais compatíveis com o que está sendo relatado (“Ah!, “Nossa!, “Terrível!”).
- Pedir esclarecimentos que facilitem a compreensão do relato
- Não dar conselhos não solicitados
- Não contar casos semelhantes (deixar quem desabafa ser o centro das atenções). Esses relatos podem desviar o foco de quem desabafa e do desabafo.
- Depois de um tempo, quando o desabafo já foi satisfatoriamente realizado, é provável que quem desabafou manifeste o desejo de ouvir o interlocutor: as regras que regem os turnos e a necessidade de feedback levarão ele a agir desta forma (geralmente não posso falar sozinho sem ouvir o outro).
- Agora sim, aquelas coisas omitidas anteriormente podem ser bem vindas (contar casos semelhantes, colocar-se à disposição para ajudar, etc.).
- Apresentar feedback mais amplo do que simplesmente empatizar, sem condenações e baseado naquilo que percebeu da situação do outro.
- Usar adjetivos para classificar o que foi relatado: “Fácil”, “Difícil”, etc.
- Relatar como percebeu os sentimentos do outro em tal situação.
- Raciocinar com outras informações para enriquecer os comentários.
Exemplo de diálogo contendo um desabafo e sua recepção
Convenções:
D – Quem desabafa.
O – Ouvinte
Meus comentários estão entre colchetes [ ]
D - Estou furiosa.
O - O que aconteceu? [Pergunta induzida pela frase acima. O ouvinte, por exemplo, não se sente à vontade para dizer “Que bonito brinco!” Mesmo que o diga (se o brinco for excepcionalmente bonito), ele se sentirá compelido a dizer, em seguida, algo do tipo “Porque você está furiosa?”]
D- Meu ex-marido tratou pegar a nossa filha e deu cano!
O - Deu cano? [A repetição dessa parte da frase acima incentiva o interlocutor a expandi-la]
D - Sim. Ele sempre faz isso. Ele cria este tipo de expectativa para ela, não cumpre e depois ela fica chorando.
O - Que chato! [“Empatiza” – mostra sentimento semelhante ao do interlocutor]
E você como está se sentindo? [Mostra interesse pelos seus sentimentos].
D- Revoltada! Eu ainda vou aprontar com ele.
O - É? O que você pensa em fazer? [Pergunta para incentivar O a desenvolver o que falou na frase acima]
D- Da próxima vez que ele se atrasar, vou sair com ela. Ele sempre foi assim, irresponsável. Ele também está com a pensão atrasada. Vou processá-lo.
O – [Apresenta cara de pesar para empatizar com os sentimentos de D] A pensão também está atrasada? [Pergunta para estimular a expansão dessa informação].
D - Sim. É um canalha. Dá vontade de matar aquele desgraçado. [Não desenvolve a informação solicitada. Prefere expressar a sua raiva]
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