Segundo, Stephen B. Levine, famoso pesquisador americano da sexualidade1, o desejo sexual é constituído por três ingredientes positivos e um negativo. Os positivos são os seguintes: impulso (drive), motivação (motivation) e querer (wish). O ingrediente negativo é constituído pelas inibições que contra-atacam o desejo.
No caso do desejo por comida, por exemplo, o impulso é a fome (determinada pelo tempo desde a última refeição, gastos de energia, etc.); a motivação é o apetite (determinada, principalmente, pela atração da comida que está disponível); o querer é constituído pelos pensamentos em favor da comida (“É saudável”; “Contém vitaminas”, etc.) e os inibidores são os fatores que atrapalham o desejo por comida (“Estou de regime”, “Essa comida contém muito colesterol”, etc.). No caso do desejo sexual, o impulso é determinado principalmente pelo tempo desde o último orgasmo; a motivação é determinada, principalmente, pela desejabilidade do parceiro (beleza, sex appeal, sinais de disponibilidade e desejo, etc.); o querer é determinado pelos motivos racionais a favor da prática do sexo (“É natural no casamento”, “Faz bem para a saúde”, etc.).
Neste artigo, vamos examinar algumas das contribuições das situações indutoras de desejo (o ingrediente “motivação” da teoria de Levine) para as traições.
A situação tentadora muda a percepção daquilo que é razoável, as motivações, as racionalizações e os comportamentos
A seguinte história exemplifica os efeitos de uma situação indutora de desejo nas chances de traição:
João está comprometido, é honesto e cheio de boas intenções.
A namorada viajou, e ele resolve ir com os amigos a uma balada, “mas só pela companhia dos amigos, sem segundas intenções.”.
Chegando lá, o ambiente é contagiante. Todo mundo está em outro clima. A paquera está no ar, as olhadas, comentários insinuantes, abordagens e seduções rolam soltas.
A bebida vai soltando as suas inibições e aumento a sua vontade de curtir a vida.
Uma mulher senta-se ao seu lado no bar e puxa assunto. Ele promete a si mesmo que só vai conversar amistosamente com aquela bonitona. O que tem de mal em uma conversa social e amistosa?
A bonitona, no entanto, tinha outras intenções. Ela é sutil. Não abre o jogo de cara. Mantem-se dentro dos limites sociais e amistosos, mas vai lançando sutilmente o seu charme.
João pensa: nada de mal em usufruir amistosamente essa dádiva da sorte e tirar alguns dividendos amorosos, sem passar os limites.
Isso dá chance para a mulher “trabalhar”: ela acabou de ganhar a chance de mostrar todo o seu charme e feminilidade dentro da moldura de um relacionamento amistoso.
À medida que João vai sendo afetado pelos efeitos da sedução e do álcool, a sua percepção vai mudando. Ele já não está tão certo se deve, quer ou precisa manter-se dentro dos limites definidos quando estava sóbrio.
Que mal tem em uma flertadinha. Essa flertadinha é logo correspondida e passa os flertadores passam a ampliar seus limites. Agora ficou mais difícil resistir.
Pronto! Eles começam a se beijar e logo, logo saem para um lugar mais reservado….
O poder indutor das situações
As situações podem alterar nossas motivações, percepções, cognições e comportamentos.O poder indutor das situações pode jogar a nosso favor ou contra nós.
Esse poder pode contribuir para a realização daquilo queremos fazer ou sentir como, por exemplo, afastar estados de espírito incômodos e estimular percepções libertadoras.
Esse poder contribuir para resultados negativos como a indução de estados de espírito negativos, comportamentos indesejáveis e minar nossas motivações positivas.
Tentações
Aqueles que gostam muito de doces, por exemplo, ficam mais motivados para comer quando veem uma sobremesa muito apetitosa, mesmo quando acabaram de fazer uma refeição que saciou suas fomes. As pessoas, quando estão diante de uma sobremesa apetitosa podem mudar suas percepções sobre os convenientes e inconvenientes de comer mais: começamos a achar que não há problemas comer mais um pouquinho daquela sobremesa: “Afinal, isso representa muito pouco em termos de calorias”. Os pensamentos sobre o regime em andamento perdem força e justificativas vão surgindo: prometemos que compensaremos o excesso de comida agora comendo menos depois ou fazendo ginástica na próxima semana.CONTINUE A LER NO MEU NOVO BLOG:
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