sábado, junho 18, 2016

Motivos do aumento das separações no Brasil (161% no espaço de dez anos)

O último senso do IBGE revelou que as percentagens de separações no Brasil aumentaram 161% nos dez anos que separam os dois últimos sensos. Um aumento assustador! Os arautos da crise do casamento se apressaram em atribuir esse aumento à deterioração e superficialização das relações e a falência do modelo antigo de casamento. Claro que esses motivos devem ser considerados e provavelmente contribuíram para esse boom de separações. No entanto, ao que tudo indica esses não são os principais motivos desse grande aumento de separações. O principal motivo que explica esse grande aumento é a viabilização do divórcio. Essa viabilização está atendendo a uma demanda reprimida: antigamente as pessoas tinham que permanecer em maus relacionamentos porque era muito difícil separar-se: as leis e a estigmatização social dos separados impediam as separações. Essas medidas que represavam as separações estão sendo afrouxadas e por isso, os insatisfeitos estão se separando cada vez mais.
Nesse artigo, vamos examinar alguns dos principais motivos do aumento de separações.

Viabilização do divórcio para solucionar crises conjugais

Duas alterações estão viabilzando cada vez mais as separações: facilitação legal e aceitação social.
Os processos legais para obter a separação estão ficando cada vez mais fáceis.
A taxa de separações é crescente porque separar-se é cada vez mais fácil. Há cerca de trinta anos, só era permitido o desquite. O desquitado não podia recasar-se. Depois, o divórcio foi permitido. No entanto, para divorciar-se tinha que haver um motivo. Além disso, o divórcio tinha que ser precedido por um período de separação. Em seguida, esse período foi abolido. Tornou-se possível divorciar-se diretamente sem passar pelo período de quarentena da separação. Em seguida, o divórcio foi novamente facilitado: tornou-se possível separar-se diretamente no cartório, sem passar pelo temido tramite envolvendo o juiz. Não havendo complicações (filhos dependentes, complicações patrimoniais, etc.) o casal podia comparecer a um cartório, acompanhado de um advogado e divorciar-se quase que imediatamente. Essa medida diminuiu os constrangimentos, o tempo e os custos envolvidos no divórcio.
Diminuição dos estigmas e das sanções sociais contra os separados
A sociedade deixou de condenar as pessoas separadas. Há poucas décadas, as pessoas divorciadas, desquitadas ou separadas eram estigmatizadas. Suas companhias eram evitadas. Não eram convidadas para festas, as relações com os amigos esfriavam, etc. Esses estigmas eram extensivos até para os filhos dos separados. Os pais dos casados “regularmente” não gostavam que seus filhos tivessem amizade com filhos de pais separados. Havia um medo de “contágio”: não queriam que seus filhos se acostumassem com a ideia de que a separação era saudável e admissível.
Agora, as relações com pessoas separadas e divorciadas são corriqueiras. Todos nós temos essa experiência com pessoas nessas condições e nossos filhos convivem normalmente com filhos de pais separados. Verificamos que não há nada de perigoso nisso. Tais pessoas são normais. Ser divorciado é apenas uma dentre outras características, como ser vegetariano, corintiano ou a favor de um partido político de esquerda ou de direita. (Claro que existem, sim, algumas peculiaridades daqueles que são separados e dos seus filhos em relação aos que não são separados ou que nunca se casaram. Mas, são características dentre outras e que podem produzir menos consequências do que essas outras).
O convívio com pessoas separadas e o conhecimento de suas experiências neste setor, além de diminuir os estigmas associados a essa condição, também nos familiarizaram com o processo da separação e as suas vantagens e desvantagens. Esse convívio com separados permite que esse tipo de solução seja corretamente dimensionado e disponibilizado para resolver problemas conjugais muito difíceis ou insolúveis.

Outros motivos para o aumento das separações

Não restam dúvidas de que existem outros motivos fortes para o aumento de separações além da viabilização. Alguns desses motivos são os seguintes :
1- Melhoria das condições das mulheres para sair de maus relacionamentos
– Melhoria das condições socioeconômicas das mulheres. As mulheres estão atuando profissionalmente e cursando faculdades. O impedimento econômico para a separação está cada vez mais fraco.
– Aumento da convicção de que é intolerável a desigualdade entre homens e mulheres em uma relação conjugal. As mulheres, cada vez mais, não aceitam as desvantagens que haviam nos antigos papeis de esposa e marido.
2- Maior liberdade sexual.
A satisfação do desejo sexual e a prática do sexo com diferentes parceiros está deixando de ser um tabu. As mulheres, principalmente, estão deixando de se verem e serem vistas como menos dignas e meritórias quando têm experiências sexuais com diferentes parceiros, mesmo quando essas experiências não acontecem no contexto de envolvimentos ou compromissos profundos. Pelo contrário: a falta de experiência sexual está sendo considerada, cada vez mais, sintomas de problemas nesta área.
3- Aumentos do acesso às tentações que existem fora do casamento
A internet aumentou exponencialmente as chances fornece os meios para os inícios e desenvolvimentos de novas relações amorosas. Essas novas relações migram facilmente para o envolvimento emocional e sexual com novos parceiros. Esses envolvimentos enfraquecem os vínculos conjugais e facilitam as traições. A traição é uma das principais causas das separações. Ela ainda é considerada uma infração muito grave do contrato matrimonial.
4- Baixas espectativas sobre a duração do casamento
Antigamente casava-se “até que a morte os separe''. Atualmente casa-se “até que o divórcio os separe''. Antigamente o casamento era no regime de comunhão total de bens. Atualmente, regime parcial de comunhão de bens ou pactos antenupciais. Com já casamos com a expectativa que o casamento pode durar pouco, tomamos nos prevenimos para este acontecimento: tentamos manter vidas separadas, pensamos mais em nós mesmos que no cônjuge e no casamento, apostamos menos na relação, etc.
Essas baixas expectativas,  as medidas preventivas e protetoras para o dia que o casamento acabar contribuem fortemente para que ele realmente acabe. “Entrar com um só pé na canoa aumenta as chances de cair na água''.
5- Não temos consciência do valor do casamento, para nós e para nossos filhos.

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